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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

FARINHA DE CADELA


Do outro sofá fico a imaginar o que se passa na cabeça do meu pai. Cochila e dorme o tempo todo, feito um passarinho. Aos 91 anos, deve estar arrumando o arquivo da sua história, desencavando seu passado. Feições alegres para as gavetas das realizações, coisas boas, tudo por ordem cronológica, imagino. Feições tristes para os ressentimentos, decepções, tristezas e arrependimentos. De repente, um sorriso. Ele acorda, sai para a cozinha, pega amendoim torrado e um pequeno pilão, Prepara, ele mesmo, a paçoca que marcou a sua infância. "Farinha de cadela", assim mamãe chamava, disse ele, degustando seu passado.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A VIDA POR UM RIO

Pedro Ferreira

Dona Lourdes Barroso, quando menina, lá em Serrinha, sertão da Bahia, sempre implorava a Deus para que nunca se apaixonasse por um homem chamado Francisco.
O pai dela alimentava uma porção de porcos com a sobra de comida dos 15 filhos e todo porco ele chamava de Chico.
A menina dizia, com sua voz arrastada e cantada, como todo bom baiano: "Ai, meu Deus! Nunca deixe-me apaixonar p...
or um homem chamado Francisco", assim pedia ela, a Deus e a todos os santos.
Na época da Ditadura Militar, Lourdinha Barroso era cantora da Rádio Excelsior em Salvador.
Foi perseguida pelos militares pelas suas ideias e fugiu infiltrada numa companhia de teatro.
Chegando em Barra, desconfiada que ainda era seguida, entrou no primeiro barco a vapor que encontrou pela frente: Vapor São Francisco, no Rio São Francisco. E ela apaixonou-se perdidamente pelo comandante Francisco Barros.
Durante anos, Lurdinha Barroso fez do vapor o seu palco, seu estúdio, e encantava a todos com a sua voz cantando Cartola, no sobe e desce do Velho Chico, de Pirapora, Minas, a Barra, na Bahia.
Ancoravam em Bom Jesus da Lapa para comprar sedas, roupas íntimas, comer tatu no restaurante e dançar forró.
O tempo passou, Lurdinha Barroso virou estrela no barco. Do amor pelo comandante, nasceram Francisleide e Francisco Barroso Júnior.
Em 2001, quando comecei minha jornada de 37 dias de banco pelo Velho Chico, conheci Dona Lourdes em sua casa, em Pirapora, Norte de Minas.
Ela guardava lembranças do seu amado, que encantou-se, e não economizava suspiros pelos grandes amores da sua vida. Dona Lourdes é carranqueira, esculpe imagens de São Francisco e é da Ordem Franciscana.
E ela agradece a Deus todo santo dia por Ele não ter ouvido as suas preces quando menina. Pelo contrário, a presenteou não com um, mas com vários Chicos.
 
(Efeito do vinho que deveria ir para a carne, que por sinal ficou a "Carne Chorada" mais saborosa que já fiz, ao som de Nina Simone)

sábado, 8 de setembro de 2012

A BISNETA DA SANTA FEIA
Pedro Ferreira

De passagem por Iguatama, Centro-Oeste de Minas, fiquei fascinado pela história contada pela dona Isabel Macedo Campos, de 62 anos. Difícil foi acreditar, mas ela estava realmente ali, na igreja, rezando aos pés da sua bisavó, ou seja, aos pés de Nossa Senhora da Abadia. Não entendi no início, mas ela me contou uma longa história, confirmada depois pelo rela

to de outros moradores e também pelos documentos levantados pela prefeitura local.
Há muitos e muitos anos, 1862, quando o lugar ainda se chamava Porto Real do São Francisco, a imagem da santa, esculpida em madeira, teve como modelo a bisavó de dona Isabel, Maria Ângela Gonçalves, na época uma menina de apenas seis anos de idade.
No dia em que a igreja foi consagrada, em 15 de agosto de 1862, uma procissão levando a imagem da santa saiu da fazenda do tataravô de Dona Isabel. A imagem foi benta e entronizada no altar da igreja, que foi concluída no ano anterior. O artista que fez a santa, Domingos Santeiro, era quase cego e precisou da ajuda de um dos seus discípulos.
Quando se casou, vestida de noiva, comentaram que Dona Isabel tinha ficado a cara da santa, mas ela não gostou nadinha da comparação. "Fiquei numa tristeza, que só vendo. A santa é muito feia", disse Dona Isabel, séria, mas sem perder a sua fé.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

RENASCIMENTO....

Olhar seus olhos é mergulhar nas profundezas da alma da felicidade
É querer sorrir com o seu sorriso
É querer não dormir
Sonhar.....

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

CORES DA VIDA

Não, não choro
É colírio
Pressão nos olhos, dos olhos
Presto mais atenção nas cores, na vida....
Tenho medo do escuro
Só pretendo o breu da morte, que é inevitável.... (Pedro Ferreira 03-09-2012)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A CASA, A ENCHENTE E O GATO


Dizem que a minha casa é assombrada. Não me importo.
Depois de mais de 30 anos abandonada, acredito realmente que ela tenha seus fantasmas.
Mesmo porque, o cemitério, esquecido há décadas, fica logo ali, no topo do morro.
Acordo de madrugada com barulhos estranhos, mas que com o tempo deixam de me assustar.
Barulho de vivo, de morto, não importa.
De vivo, pode ser a capivara e seus filhotes fazendo a festa no mandiocal, do cachorro da fazenda vizinha que atravessa o rio em busca de restos de comida no quintal.
Bicho homem, com maldade no coração, tenho medo, mas me apego à proteção divina e dos meus vizinhos espíritos a quem também peço guarda.
Xatran, gato siamês emprestado pela minha mãe nas minhas férias, é silencioso até no andar.
Passos de bailarinha, de quem pisa em ovos, quando resolve mudar o cardápio e arma o bote.
Deixa a ração de lado e corre atrás de qualquer coelho ou preá que percebe no meio do mato.
Certa madrugada, um silêncio estranho me acordou.
O barulho da cachoeira no rio em volta da casa parou.
Da janela não pude ver o que acontecia.
O bréu era assustador.
A lua havia se recolhido atrás de uma cortina de nuvens negras.
Voltei a fechar a janela verde que se abre em par.
Preciso pintá-las por dentro também, decido, lembrando que a descasquei com a unha para saber a sua cor original e ser fiel ao gosto do seu primeiro dono, Domingos de Albino, Valdo Bedeu, sei lá.
Observo as paredes brancas que no passado eram apenas caiadas.
Volto a dormir.
Escuto o barulho da chuva fina no telhado novo, sem forro.
Sinto no rosto descoberto o frescor pulverizado da cumeeira.
Chuva no telhado, cantiga de ninar.
Apago a luz e volto a dormir.
O dia nem clareou por completo e já estou de pé.
A passarada me desperta.
Volto a abrir a janela verde e só então, com o despertar do dia, descubro a enchente que tomou conta da baixada.
As duas cachoeiras, uma de um lado, outra do outro, no rio que faz 'L' em volta da casa, sumiram por completo debaixo de um mundaréu de água.
Penso logo na bomba d'água, submersa no Rio Alcobaça, amarrada aos pés de uma engazeira. "Foi levada pela correnteza", penso.
Ligo o interruptor atrás da porta e me acalmo com o barulho da água chegando à caixa.
A bicharada assanhada procura proteção nas partes mais altas.
Tenho medo das cobras. Já expulsei duas, do telhado e da cozinha.
Faz frio.
Volto para a cama à espera do calor do sol, que ainda é morno.
Xatran se aproxima e finjo dormir.
E ele, de passos lentos, pula na cama, prepara o cobertor com as unhas e se aconchega, olhando-me atentamente, com medo de me acordar.
Não resisto, abro os olhos e sorrio.
"Seu bobo, pode ficar!", permito.
E ele aproxima, fazendo afagos, e dorme.
Mais um dia na fazenda.
Bom dia, dia....

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Matar capivara é crime

Um lavrador de Pratápolis, sudoeste de Minas, foi condenado pela 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) por ter caçado e abatido duas capivaras. A pena estabelecida em primeira instância, confirmada agora pelo Tribunal, foi de 9 meses de detenção, em regime aberto, substituída pela pena alternativa de pagamento de um salário mínimo a entidade que será definida pelo juízo de execução. Ele foi condenado também ao pagamento de 10 dias-multa.

De acordo com o processo, no dia 15 de agosto de 2007, a Polícia Militar foi acionada diante da denúncia de que algumas pessoas estariam caçando nas proximidades de uma ponte no rio São João, zona rural do município de Cássia, com disparos de arma de fogo.

A guarnição da polícia compareceu ao local e verificou que o lavrador estava em um barco com motor de popa juntamente com um companheiro. Assim que os suspeitos saíram do barco e passaram a colocar materiais em um veículo, foram abordados pelos policiais, que encontraram uma espingarda cartucheira, calibre 28 e duas capivaras abatidas.

O juiz Fabiano Garcia Veronez, da comarca de Cássia, condenou cada um dos réus à pena de 9 meses de detenção e pagamento de 10 dias-multa, substituindo a pena pelo pagamento de um salário mínimo a entidade de utilidade pública.

Um dos réus recorreu ao Tribunal de Justiça, sob a alegação de que agiu por necessidade, pois estava passando por grandes dificuldades financeiras, não tendo o que comer, motivo pelo qual abateu as capivaras.

O desembargador Duarte de Paula, relator do recurso, afirmou que os autos comprovam que a ação do réu “não se destinou à sua subsistência e de seus familiares, fato que sequer foi cogitado em ambos os depoimentos prestados pelo denunciado perante a autoridade policial e em juízo, oportunidade em que disse que estava caçando para ver como era.”

“Vê-se claramente que a intenção do apelante na caça dos animais é predatória, com motivação egoística voltada para a satisfação de uma vaidade consistente na alimentação de carne de um animal exótico”, concluiu o relator.

Ainda segundo o desembargador, “a capivara é animal que compõe a fauna silvestre brasileira e seu abate, fora das hipóteses previstas na lei de proteção à fauna, é ato que importa em impacto ao meio ambiente.”

Os desembargadores Marcílio Eustáquio Santos e Cássio Salomé acompanharam o relator.

fonte: TJMG

domingo, 15 de janeiro de 2012

PATRIMÔNIO DELAPIDADO

O canteiro em primeiro plano da nossa Praça da Matriz não existe mais. Deu lugar a um treiler de sanduíche, o terceiro. O patrimônio mais bonito de Machacalis está sendo delapidado. É isso que você quer para nossa cidade?