Do outro sofá fico a imaginar o que se passa na cabeça do meu pai. Cochila e dorme o tempo todo, feito um passarinho. Aos 91 anos, deve estar arrumando o arquivo da sua história, desencavando seu passado. Feições alegres para as gavetas das realizações, coisas boas, tudo por ordem cronológica, imagino. Feições tristes para os ressentimentos, decepções, tristezas e arrependimentos. De repente, um sorriso. Ele acorda, sai para a cozinha, pega amendoim torrado e um pequeno pilão, Prepara, ele mesmo, a paçoca que marcou a sua infância. "Farinha de cadela", assim mamãe chamava, disse ele, degustando seu passado.
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quarta-feira, 26 de setembro de 2012
FARINHA DE CADELA
Do outro sofá fico a imaginar o que se passa na cabeça do meu pai. Cochila e dorme o tempo todo, feito um passarinho. Aos 91 anos, deve estar arrumando o arquivo da sua história, desencavando seu passado. Feições alegres para as gavetas das realizações, coisas boas, tudo por ordem cronológica, imagino. Feições tristes para os ressentimentos, decepções, tristezas e arrependimentos. De repente, um sorriso. Ele acorda, sai para a cozinha, pega amendoim torrado e um pequeno pilão, Prepara, ele mesmo, a paçoca que marcou a sua infância. "Farinha de cadela", assim mamãe chamava, disse ele, degustando seu passado.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
A VIDA POR UM RIO
Pedro Ferreira
Dona Lourdes Barroso, quando menina, lá em Serrinha, sertão da Bahia, sempre implorava a Deus para que nunca se apaixonasse por um homem chamado Francisco.
O pai dela alimentava uma porção de porcos com a sobra de comida dos 15 filhos e todo porco ele chamava de Chico.
A menina dizia, com sua voz arrastada e cantada, como todo bom baiano: "Ai, meu Deus! Nunca deixe-me apaixonar p...
Dona Lourdes Barroso, quando menina, lá em Serrinha, sertão da Bahia, sempre implorava a Deus para que nunca se apaixonasse por um homem chamado Francisco.
O pai dela alimentava uma porção de porcos com a sobra de comida dos 15 filhos e todo porco ele chamava de Chico.
A menina dizia, com sua voz arrastada e cantada, como todo bom baiano: "Ai, meu Deus! Nunca deixe-me apaixonar p...
or um homem chamado Francisco", assim pedia ela, a Deus e a todos os santos.
Na época da Ditadura Militar, Lourdinha Barroso era cantora da Rádio Excelsior em Salvador.
Foi perseguida pelos militares pelas suas ideias e fugiu infiltrada numa companhia de teatro.
Chegando em Barra, desconfiada que ainda era seguida, entrou no primeiro barco a vapor que encontrou pela frente: Vapor São Francisco, no Rio São Francisco. E ela apaixonou-se perdidamente pelo comandante Francisco Barros.
Durante anos, Lurdinha Barroso fez do vapor o seu palco, seu estúdio, e encantava a todos com a sua voz cantando Cartola, no sobe e desce do Velho Chico, de Pirapora, Minas, a Barra, na Bahia.
Ancoravam em Bom Jesus da Lapa para comprar sedas, roupas íntimas, comer tatu no restaurante e dançar forró.
O tempo passou, Lurdinha Barroso virou estrela no barco. Do amor pelo comandante, nasceram Francisleide e Francisco Barroso Júnior.
Em 2001, quando comecei minha jornada de 37 dias de banco pelo Velho Chico, conheci Dona Lourdes em sua casa, em Pirapora, Norte de Minas.
Ela guardava lembranças do seu amado, que encantou-se, e não economizava suspiros pelos grandes amores da sua vida. Dona Lourdes é carranqueira, esculpe imagens de São Francisco e é da Ordem Franciscana.
E ela agradece a Deus todo santo dia por Ele não ter ouvido as suas preces quando menina. Pelo contrário, a presenteou não com um, mas com vários Chicos.
Na época da Ditadura Militar, Lourdinha Barroso era cantora da Rádio Excelsior em Salvador.
Foi perseguida pelos militares pelas suas ideias e fugiu infiltrada numa companhia de teatro.
Chegando em Barra, desconfiada que ainda era seguida, entrou no primeiro barco a vapor que encontrou pela frente: Vapor São Francisco, no Rio São Francisco. E ela apaixonou-se perdidamente pelo comandante Francisco Barros.
Durante anos, Lurdinha Barroso fez do vapor o seu palco, seu estúdio, e encantava a todos com a sua voz cantando Cartola, no sobe e desce do Velho Chico, de Pirapora, Minas, a Barra, na Bahia.
Ancoravam em Bom Jesus da Lapa para comprar sedas, roupas íntimas, comer tatu no restaurante e dançar forró.
O tempo passou, Lurdinha Barroso virou estrela no barco. Do amor pelo comandante, nasceram Francisleide e Francisco Barroso Júnior.
Em 2001, quando comecei minha jornada de 37 dias de banco pelo Velho Chico, conheci Dona Lourdes em sua casa, em Pirapora, Norte de Minas.
Ela guardava lembranças do seu amado, que encantou-se, e não economizava suspiros pelos grandes amores da sua vida. Dona Lourdes é carranqueira, esculpe imagens de São Francisco e é da Ordem Franciscana.
E ela agradece a Deus todo santo dia por Ele não ter ouvido as suas preces quando menina. Pelo contrário, a presenteou não com um, mas com vários Chicos.
(Efeito do vinho que deveria ir para a carne, que por sinal ficou a "Carne Chorada" mais saborosa que já fiz, ao som de Nina Simone)
sábado, 8 de setembro de 2012
A BISNETA DA SANTA FEIA
Pedro Ferreira
De passagem por Iguatama, Centro-Oeste de Minas, fiquei fascinado pela história contada pela dona Isabel Macedo Campos, de 62 anos. Difícil foi acreditar, mas ela estava realmente ali, na igreja, rezando aos pés da sua bisavó, ou seja, aos pés de Nossa Senhora da Abadia. Não entendi no início, mas ela me contou uma longa história, confirmada depois pelo rela
Pedro Ferreira
De passagem por Iguatama, Centro-Oeste de Minas, fiquei fascinado pela história contada pela dona Isabel Macedo Campos, de 62 anos. Difícil foi acreditar, mas ela estava realmente ali, na igreja, rezando aos pés da sua bisavó, ou seja, aos pés de Nossa Senhora da Abadia. Não entendi no início, mas ela me contou uma longa história, confirmada depois pelo rela
to de outros moradores e também pelos documentos levantados pela prefeitura local.
Há muitos e muitos anos, 1862, quando o lugar ainda se chamava Porto Real do São Francisco, a imagem da santa, esculpida em madeira, teve como modelo a bisavó de dona Isabel, Maria Ângela Gonçalves, na época uma menina de apenas seis anos de idade.
No dia em que a igreja foi consagrada, em 15 de agosto de 1862, uma procissão levando a imagem da santa saiu da fazenda do tataravô de Dona Isabel. A imagem foi benta e entronizada no altar da igreja, que foi concluída no ano anterior. O artista que fez a santa, Domingos Santeiro, era quase cego e precisou da ajuda de um dos seus discípulos.
Quando se casou, vestida de noiva, comentaram que Dona Isabel tinha ficado a cara da santa, mas ela não gostou nadinha da comparação. "Fiquei numa tristeza, que só vendo. A santa é muito feia", disse Dona Isabel, séria, mas sem perder a sua fé.
Há muitos e muitos anos, 1862, quando o lugar ainda se chamava Porto Real do São Francisco, a imagem da santa, esculpida em madeira, teve como modelo a bisavó de dona Isabel, Maria Ângela Gonçalves, na época uma menina de apenas seis anos de idade.
No dia em que a igreja foi consagrada, em 15 de agosto de 1862, uma procissão levando a imagem da santa saiu da fazenda do tataravô de Dona Isabel. A imagem foi benta e entronizada no altar da igreja, que foi concluída no ano anterior. O artista que fez a santa, Domingos Santeiro, era quase cego e precisou da ajuda de um dos seus discípulos.
Quando se casou, vestida de noiva, comentaram que Dona Isabel tinha ficado a cara da santa, mas ela não gostou nadinha da comparação. "Fiquei numa tristeza, que só vendo. A santa é muito feia", disse Dona Isabel, séria, mas sem perder a sua fé.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
RENASCIMENTO....
Olhar seus olhos é mergulhar nas profundezas da alma da felicidade
É querer sorrir com o seu sorriso
É querer não dormir
Sonhar.....
É querer sorrir com o seu sorriso
É querer não dormir
Sonhar.....
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
CORES DA VIDA
Não, não choro
É colírio
Pressão nos olhos, dos olhos
Presto mais atenção nas cores, na vida....
Tenho medo do escuro
Só pretendo o breu da morte, que é inevitável.... (Pedro Ferreira 03-09-2012)
É colírio
Pressão nos olhos, dos olhos
Presto mais atenção nas cores, na vida....
Tenho medo do escuro
Só pretendo o breu da morte, que é inevitável.... (Pedro Ferreira 03-09-2012)
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